sábado, 14 de maio de 2011

MULHERES SE ILUDEM

Algumas mais do que as outras. E eu fui uma delas. Isso aconteceu quando eu estava morrendo de amores e paixão por um Zé Qualquer.

Poderia começar a escrever em prosa, ou em verso, para poder te mostrar um lado meu parecido com você. Mas não vou. Vou escrever da forma como meu coração está soltando e meu cérebro está traduzindo os símbolos.
Passei muitos anos. Os últimos 10 pelo menos, me resguardando e cultivando na mente a idéia de que “nada nem ninguém me abala”. E foi assim até você aparecer. Quando estávamos conversando na telinha, você só era mais um neurótico, solitário e carente como muitos(as) outras(as) que não conseguem dormir a noite, que não conseguem ficar sozinhos acordados, que tomam vodkas e usam cameras para conhecerem pessoas, que só se mostram desta forma. E isto também estava bom para mim.
Mas ai, você veio com aquela palavrada de que teclado não é o caso, que incomoda, que você não sabe lidar com ele direito (mentiroooosooo).
E me trouxe sua voz, essa voz que eu não sei explicar como, entrou pelo meu coração direto. Não foi pelo ouvido, pois tem algumas palavras que você fala que movimentam alguns acordes do meu ser. Ou que simplesmente acordaram meu ser. Ou um pedaço do meu ser que estava com sono, querendo dormir por falta de coisa melhor para fazer. E você falou, lamentou, contou, sussurrou, cantou, recitou, me encantou. Como a flauta faz com a cobra: Me fez ir subindo lentamente completamente hipnotizada. Me fez arrumar a sala, contar minutos no relógio que, antes, só andava contando horas de duas em duas para passarem mais depressa, pintou meu cabelo de outra cor, me fez ficar sentada na sala toda arrumada como se você fosse chegar de verdade e me ver bonitinha. Me fez ficar sentada em um shopping, numa Segunda feira, cheia de esperança de você ter coragem de subir no cavalo branco e vir me ver, e que quando você chegasse nós só íamos olhar olho no olho (como você me fez acreditar que seria – pois esse seria o segundo passo) e você me beijaria (segurando minha cabeça. Claro), e ficaríamos abraçados um tempão, até que todas as lembranças de uma época qualquer que nos uniu chegasse toda até nós dois e enfim: sós e unidos para sempre.
Me trouxe de volta a velha crença em coisas, em encantos, em pessoas, em poetas, em homens, em encontros.
Sempre gostei das segundas-feiras. Eram minhas aliadas, pois era dia de poder ficar em casa. Agora acho que são minhas inimigas. Foi numa delas que você entrou na minha telinha pela primeira vez. Foi numa outra que chegou sua voz meio bêbada, confusa, mas linda. Mas também foi numa delas que eu fiquei sentada a tarde toda, de blusa nova cor de vinho igual ao meu cabelo (pra combinar, sabe como é? Coisa de mulher), com um olho que teimava em não ficar bom e em não enxergar direito o que estava acontecendo. Mas lá, sentada e toda arrumadinha crente que você tava a caminho. Quando saí da casa de minha mãe, apesar de estar me sentindo mal pra caramba, fui direto para a guilhotina ficar na ilusão de que você tinha me dito que ia sair para comprar aquele enxoval mas que na verdade estava vindo me ver. E como eu desejava isso. Os meus dois celulares de plantão em cima da mesa, esperando o toque que ia me dizer: onde você está e qual a sua roupa? A ansiedade foi tanta que cheguei a vomitar. Ioiô minha amiga que estava comigo ria de mim, da minha adolescência, do meu estado de bobeira. Mostrei sua foto para todos no consultório. Imprimi seus lindos poemas e coloquei no quadro de avisos para todos lerem. Mulheres se iludem com muita facilidade.
Vi ao longo dos anos pessoas fazendo tratamentos intensivos para se curarem dessa “desilusão” que estou sentindo agora. Dei a elas várias vezes as fórmulas mágicas das curar de amor. Achava que já estava imunizada, pois já tinha tanto tempo que não ficava assim tão doente, e sabia as fórmulas mágicas da cura... Ledo engano meu. Pura ilusão. Mais uma em relação a você.
Nossa, é horrível essa sensação de rejeição, de abandono. A minha tese acerca da paixão não é mais uma tese, é verdade em mim. O estancamento é horrível. Ele aprisiona e tortura. Não consigo dormir direito só porque não falei com você, e não ouvi aquele monte de coisas bobas que você me disse durante tantas (poucas) noites. E tudo por conta de uma meleca de neurose, por uma mala chamada paranóia. Suas, claro.
A arte do desencontro: nos mesmos momentos em que eu estava pensando em te encontrar, abraçar, beijar de língua e tudo – você estava do outro lado da poça pensando que eu estava querendo te checar, analisar, controlar, blablabla. Droga, isso não é encontro, é desencontro. Essas não são almas que se desejam, muito pelo contrário. Esse cara não é o mesmo que escreveu uma tarde de poemas. E o pior de tudo nessa merda de papo, é que eu acreditei mesmo em tudo o que o poeta disse. Mulheres se iludem. E muito. Poetas e homens são pessoas muito interessantes. Mas são pessoas diferentes umas das outras. Poetas enchem nosso ouvido de ilusão, de poesia, de maravilhas. Homens são uns bobos, babacas e chorões que nos fazem sofrer por amor. Eu já sabia disso e mesmo assim caí. No canto e no conto do sereio. De um sereio muuuiito charmoso. E ainda por cima bonito, mandou até a foto. Encantador. Que dividiu comigo até, seu netinho (um dos meus maiores problemas existenciais é o desamor da minha filha e o afastamento que ela me obriga de minhas netas – que são duas e lindas). Até nisso eu acreditei. Até isso você me trouxe de bom.
Mas fez questão de melar tudo. De azedar o vinho. De entornar o caldo. De me fazer chorar, sofrer, me sentir expurgada. Me expulsar, como se expulsa coisas ruins. Fez questão de transformar poesia boa em má. Lembra quando eu te perguntava se você gostava do Augusto dos Anjos? Na verdade eu estava te perguntando se você também era mórbido, sarcástico, existencial e intrinsecamente cruel.
Não fui tua analista, fui tua amante. Em todos os sentidos. Conversava com você deitada na minha cama, de luz apagada, nua, sem roupas e sem “roupagens”. Sonhei com você, desejei você, fiz amor com você de todas a maneiras emocionais, espirituais, físicas e metafísicas. Mulheres de iludem com muita facilidade.
E a última ilusão: pensei que pudesse deixar de falar com você de uma hora pra outra. Ainda não consigo. Não sei quanto tempo vou levar para deixar de precisar de você, da sua voz, das suas ilusões, do seu charme. Não sei quanto tempo vou levar para transformar ferida em cicatriz. Lembra minha teoria sobre cicatrizes? Essa será mais uma que vou esconder de todo mundo, para que não saibam o quanto sofri.
Sinto muito ter sentido tanto. Com tanta intensidade. Com tanta vontade, com tanta emoção. Mas eu sou assim mesmo, completamente passional.
Não telefono mais, para sofrer menos, mas não consigo deixar de te escrever. Assim que eu conseguir, pararei. Escrever é melhor, pois te dá a chance de não ler se não quiser, e eu não fico sabendo. Fico achando que você leu. Já o telefone quando toca e você não atende mesmo sabendo que sou eu, só alimenta minha frustração e aquela sensação horrível de dois pés enormes chutando minha bunda no meio da avenida paulista. E que aumenta toda vez que penso que a única coisa que fiz para merecer um tratamento desses, à base de purgante, é Ter me iludido, te amado, me deixado levar por essa coisa doce e gostosa que você tem, por Ter me apaixonado por você, por Ter lido todos os seus poemas muitas vezes, Ter escutado sua mensagem na minha secretária eletrónica dizendo eu te amo, por Ter deixado entrar em meu coração frases do tipo “é tão bom acordar com a tua voz me dando bom dia”.
Estou sofrendo. Muito. Por amor. Por você.
Que droga, isso é tudo o que eu ensino as pessoas a não fazerem com elas mesmas:
é a antítese triunfo-fracasso.
O certo agora seria eu reler tudo e ver o que tiro ou o que boto no texto. Não tiro nada. Deixo tudo que meu coração sente e minha mente consegue transformar em palavras. O que não consegue ser transformado, só eu vou sentir, sem poder dividir com você. E sei que é uma parte grande e pesada.
Mas nem tudo é tão ruim assim. Por você, fiz de novo versinhos e poemas. Escutei músicas antigas, Lembrei de mim. Do quanto sou bonita, inteligente, bem humorada. Não estava fazendo essas coisas só por mim, como é o certo e como deveríamos todos fazer. Mas isso também foi bom. Você me mostrou que ainda sou capaz de fazer coisas por alguém, não com o sentido filantrópico do “por alguém”, mas pelo puro egoísmo do amor, da paixão, do bem estar pessoal, do se sentir querida e bem vinda.
Eu sou uma médica mesmo, lido com pessoas, faço análises e psicanálises, mas você não sabia que o analista ou o terapeuta sempre tem que ter alguém que faça o mesmo com ele? Só que o terapeuta do analista não pode ser um terapeuta, tem que ser o amor. Lembra quando te digo que do mar só gosto do pescador? Pensei que você era o MEU PESCADOR. Você assinou o poema Tes, com TE AMO. Tenho mania de falar por metáforas, mas falo. E pra você, só falei coisas boas e doces. Meleca, porque você fez isso comigo? Viu como eu fiquei? Chata, chorona, cheia de cobranças e reclamações. Parecida com todas as pessoas que te amaram e que de alguma forma precisaram te cobrar coisas. Que droga...Pena que não deu certo. Assinado Sua Verovska (sua porque mais ninguém me chama assim, e porque eu gostaria mesmo de ser sua)
Interessante, escrevi isto e não coloquei data. Mas hoje, 10/10/07 estou relendo. E chegando à conclusão de que você conseguiu tudo. Me cantou, me encantou e me desencantou. Tudo com a mesma intensidade.

3 comentários:

  1. Minha doce e amável prima, vc é um ser iluminado e cheio de vida. Felizes dos que te conhecem bem de perto. Talvez, um dia, os " infelizes" tenham o prazer e a felicidade de compartilhar tamanha grandeza que vc tem. Mas isso é pra poucos e para seres especiais.
    Parabéns por ser uma mulher profunda e cheia de encantos! Vá em frente!
    Um forte abraço e um bj no seu coração! Com carinho, da prima Claudinha

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  2. e, afinal, vc conseguiu desvencilhar-se de um Ser tão vil?

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