domingo, 15 de maio de 2011

ENSAIANDO ATÉ VIVER A FELICIDADE


Essa foi minha dissertação. Difícil de escolher, de desenvolver, de aceitar, e principalmente de ser aceita. Muita técnica mas com consequencia emocional. É um saco ter que ensaiar, ensaiar, ensaiar, até poder viver a felicidade. Tem gente que ensaia a vida toda e nunca vive. Tem gente que pensa que vive, mas tá só ensaiando.

A monografia começa assim:

I . A PAIXÃO

Existem ainda nos dias de hoje duas teses irreconciliáveis acerca da paixão:

  • Aquela que considera a paixão como um produto da alma (que é considerada inferior), ou seja, como uma manifestação do “fundo animal e demoníaco” do homem, e que deverá, a todo custo e em todos os momentos ser dominada pela razão ou até mesmo ser destruída pela vontade.

  • E aquela outra que diz que a paixão representa a principal fonte criadora da vida espiritual, o motor fundamental de nossos atos, elemento sem o qual o homem jamais alcançaria os cumes da imortalidade, e que por conseguinte, é colocada em primeiro plano e tem o valor mais destacado da vida espiritual.

Será simplista a pretensioso querer classificar as paixões em boas ou más, positivas ou negativas. Será o mesmo que classificar as enfermidades em boas ou más. Também não adianta tentar achar que uma paixão amorosa é de categoria moral mais alta que uma paixão colérica. Um exemplo disso é que não podemos criar uma diferença entre um crime passional movido por amor ou ciúmes, daquele cometido pela inveja, avareza, gula, etc. Se admitimos que o estado passional da cólera ou do medo é uma atitude atenuante ou absolvente (por exemplo, defesa da honra, legítima defesa), porque então não podemos considerar que um delito resultante de um desejo proibido possa ser irreprimível?

Porquê Tanto Medo da Paixão?

  • Quando estamos sob efeito de qualquer tipo de paixão, não conseguimos de jeito nenhum suportar o estado de “impotência” em que ficamos, assim como a total inutilidade das nossas tentativas de sair deste estado. Vivemos pensamentos do tipo: “não sou dono dos meus atos, perdi minha vontade própria, faço coisas que não quero, não me reconheço mais, estou como que paralisado”, etc... E por mais que tentemos não conseguimos mudar nem os pensamentos nem o que estamos sentindo.

  • A tensão e o sofrimento que o estado de paixão nos coloca, a angústia que o nosso Eu vivencía enquanto não realiza os atos, que podem tanto ser negativos como positivos, impostos por aquele momento de paixão é enorme (por exemplo: “tenho que falar com fulano agora, enquanto não fizer isso/aquilo não sossego, só vou conseguir dormir quando..., etc.).

Porém é fundamental que entendamos que a partir do momento em que realizamos o chamado “gozo passional”, ou melhor quando conseguimos fazer aquilo que achávamos só ser possível se..., nada mais estamos do que experimentando a passageira vivência da alegria de nos libertarmos do sofrimento passional, ou melhor, estamos experimentando a satisfação obtida pela libertação da dolorosa acumulação e retenção da “carga passional”, muito embora nosso espírito tenha a possibilidade de sentir outros gozos mais positivos e mais nobres do que este.

Mas o principal e o que na maioria das vezes acontece é que, se estamos simplesmente experimentando o alívio pela libertação da carga passional, não estamos sentindo a felicidade verdadeira por “conseguir falar com ele agora” ou “conseguir dormir depois de” e etc.). E aí, haja saúde física para suportar tantas alterações neuro fisiológicas e hormonais.

Levando-se em consideração que a paixão é, antes de tudo, passividade e sofrimento (basta lembrarmos da paixão de cristo) compreendemos então que estão mais propensas a ela, de modo especial, aquelas pessoas na qual predomina a sensibilidade sobre a ação, a atitude de introversão sobre a extroversão. Ou seja, os espíritos tímidos, contemplativos, concentrados e ensimesmados são os mais passionais. Da mesma forma que os impetuosos homens de ação, audazes e decididos são os apassionais, ou seja privados da paixão. Já dizia Kant e tinha nisto muita razão quando colocava o impulso contra a paixão pois considerava “o impulso como uma torrente que rompe o dique que está contido”, enquanto “a paixão como um charco que cava sua própria tumba, infiltrando-se paulatinamente no solo”.

A lenta imobilização do potencial psíquico nos estados da paixão leva às vezes à detenção da vida psíquica (sendo por estancamento ou por êxtase) com uma conseqüente perda da noção do tempo (que é inseparável da noção do movimento no espaço, isto é, da noção da ação). Por exemplo, alguém que só pensa em uma determinada vingança, ou em um determinado inimigo: estado de estancamento psíquico; outro que só pensa no que vai dizer ao namorado, em como poderá agradar o ente amado: estado de êxtase psíquico. Estes serem ficam o total do tempo necessário nestes estados, estando assim sua noção de tempo/espaço, em relação às suas outras atividades, prejudicada até que seja realizado o “gozo passional” e conseguida a liberdade psíquica.

Depois disso tudo aí em cima, onde você se coloca? Passional, apaixonado, fugindo da paixão, fingindo que ela não existe,perseguindo cada uma que passa pela sua vida? E o pior de tudo é que depois que você se posicionar eu vou te lembrar que teu único objetivo o tempo todo era o "gozo passional". Perda de tempo? Pode ser, mas com um sabor inigualável.

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