Quando me olho no espelho, como fiz hoje, de corpo inteiro e
vejo uma figura tão diferente da minha, entendo que estou vendo meu passado.
Quando encaro de frente essa nova pessoa, vejo de frente meu futuro. Vejo o
desconhecido. Não tenho noção da nova figura que aparecerá amanhã. Mas conheço
cada pedaço da pessoa que está dentro dela. Conheço cada minuto da existência da
pessoa que habita este novo corpo, essa nova aparência.
Difícil lembrar todas as passagens, todos os obstáculos todas
as vitorias, todos os crimes, todas as benevolências, todo o amor ou todo o
ódio. Difícil lembrar de tudo, de todas as historias.. Mas esse não lembrar de
tudo faz parte da generosidade da vida. Nossa mente esquece e nosso cérebro arquiva
quase tudo. O que importou e o que não importou. O que serviu e o que não serve mais. Nosso coração lembra nitidamente se foi feliz ou não. Nossos órgãos sabem
se fomos gratificados ou não. Nossa circulação sabe se a segurança existiu em
alguns momentos ou se nunca apareceu para nos dar bom dia.
Difícil. Olhar no espelho hoje significa o futuro mas também
significa o passado Então entendo que o melhor que tenho é o presente. Não
consigo lembrar de tudo do ontem e não sei como será o amanhã. Mas posso
imaginar e praticar o hoje. O que serei hoje? O que me permitirei ser hoje. Talvez
nada. Quem sabe muita coisa se não para mim, para alguem.
Tudo é mais difícil, mas tudo tornou-se mais fácil. As
dificuldades são maiores, mas as saídas mais rápidas. A vida então torna-se um
paradoxo quando avançamos nela. Temos todas as escolhas feitas como exemplo
para as novas que vamos fazer. Mas elas
nem sempre serão bons exemplos. Isso significa que ainda estou aprendendo. E
isso é muito bom. Aprender. Apreender. Aprender a não prender. Aprender a
soltar, pois é essa a única maneira de se aprender a aceitar o ser ou não ser.
Ter ou não ter. Falar ou calar. Estar ou não estar.
Se importar com o que realmente for importante. Mas primeiro
saber a diferença. Diferença.