quinta-feira, 9 de junho de 2011

ANTES DE FALAR DE SEXO, VOU FALAR DE TABUS

Pois é, os tabus. Hoje em dia nem se fala mais essa palavra, a maior parte da garotada nem se toca do significado dessa palavra. Mas na minha época, o que mais se conhecia eram os tabus. De modo geral, pode-se definir tabu como qualquer assunto ou comportamento inaceitável ou proibido em uma determinada sociedade. O termo tabu tem um significado muito extenso, mas, em geral, significa que uma coisa é proibida. O significado de tabu ramifica-se em duas direções opostas: por um lado significa consagrado, sagrado, por outro, significa misterioso, perigoso, proibido e imundo.

Quando colocamos o termo tabu associado ao sexo, estamos falando de coisas misteriosas, perigosas, proibidas e imundas. Segundo, claro, os critérios e comportamentos das minhas avós.

O sexo na minha época tinha a conotação de um erro, um equívoco, uma coisa feia. As mulheres casadas deveriam ser virtuosas ao ponto de perderem seus maridos para as prostitutas, rameiras e afins. Estas eram as mulheres sujas mas que satisfaziam os desejos de nossos maridos...e às vezes eles iam embora com uma delas. Ou com uma de nossas melhores amigas, que não se ligavam muito nessa história toda de tabu, perigo, sujeira. O engraçado nessa coisa triste é que os homens também acreditavam nisso. E tratavam suas esposas como esposas, e as outras como suas mulheres. E isso era lamentável em todos os sentidos.

Por causa dessa maneira lamentável de entender o sexo, os homens também praticavam - e ainda praticam e muito, apesar de não existir mais o tabu - o tal do abuso sexual. Na verdade um abuso sexual começa no momento em que o marido entende que sua esposa não precisa de sexo. Isso é um abuso. E vai praticar com a outra. Isso é o maior abuso. Abuso de poder, abuso de confiança, e por aí vai.

O abuso sexual na infância faz parte do tabu. Desde que o mundo é mundo que o homem fica profundamente atraído pelas coisas proibidas, escondidas, perigosas, imundas. Se o sexo é tudo isso, sexo com uma criança é isso multiplicado por dez. É mais ou menos como fumar um super cigarro de maconha, ou cheirar uma overdose de cocaína. Excitante até o êxtase. Por causa, em parte, do tabu.

E nessa bagunça toda, quem entra na maior de todas as roubadas é a criança. Eu fui uma delas. Até hoje só consigo dormir bem uma noite tranquila de sono quando estou deitada no tapete da sala da minha casa. Quando eu era menininha de mais ou menos 6 anos, corria pra baixo da mesa da sala da casa da minha mãe toda noite, pois tinha um carinha que ia me "abusar" na minha cama. O tapete debaixo da mesa do jantar era meu refúgio.

A cada dez mulheres que ajudo em meu consultório, 8 passaram por esse tipo de conflito. O abuso sexual na infância é um conflito que a criança não sabe lidar de nenhuma forma. Na maior parte das vezes o abuso é praticado por um membro da família, ou um amigo próximo. Sempre pessoas em quem a criança confia ou tem algum tipo de sentimento envolvido. Dependendo da idade da criança, ela não sente absolutamente nada no corpinho relacionado aos prazeres do sexo, mas sente afeto ou amizade ou carinho pelo abusador. E ao mesmo tempo ela entende que está acontecendo algo que não deveria estar acontecendo. Algo está errado. Mas de uma forma incompreensível para ela, ela está gostando do que está acontecendo. Claro que a criança não está gostando do toque sexual,mas da pessoa que está perto dela. E pela confusão que ela faz dentro da sua cabecinha/emoçãozinha nasce aí o terrivel inimigo da mulher adulta: o conflito interno. Esse tal de conflito interno é o cara que leva as mulheres ao rivotril, ao anti depressivo, ao tudo de ruim emocional na vida delas.
O conflito interno não acontece só por causa do abuso sexual. Claro que não. Mas esse é um dos grandes causadores. E deixa marcas visíveis no corpo da mulher. No meu caso por exemplo, como o abusador se deitava atraz de mim, até hoje não consigo ser abraçada pelas costas por meus namoridos, tenho uma atrofia nas 4ª, 5ª, e 6ª vertebras cervicais com direito a artrose e hernia de disco e tudo. Só porque fazia uma postura de proteção encolhendo a cabeça pra dentro do peito - a vida toda. Fazia e se bobear ainda faço, pois é um reflexo, um ato involuntário de proteção. Uma postura emocional.

Será que você que está por aqui lendo essas coisas doidas que escrevo já passou por algo parecido? Tenho uma amiga que sofria abuso por parte do avô; Ele colocava o pênis na boquinha dela e depois levava ela na padaria e comprava balas e doces. Sabe o resultado disso? Diabetes descontrolada. Uma outra sofria abuso por parte do melhor amigo do pai. Ele colocava a mão dentro da calcinha dela por baixo da mesa quando estavam jantando. Sabe o resultado disso? Gastrite infecciosa crônica, deficiência alimentar. É mole uma coisa dessas? Pense, reflita, tente lembrar se alguma amiga sua já passou por isso. Entenda que o abuso sexual deixa marcas. Não só emocionais, mas também físicas. Deixa uma doença psicossomática associada a ele. Mas isso tem cura. Ou pelo menos tem como ser amenizado ao máximo.

Bom agora que fale de tabus, abusos e eteceteras, quem sabe já consigo falar de sexo, pra depois conseguir praticar sexo com alguém.Té

Um comentário:

  1. Eu nunca pensei que o abuso sexual às crianças tivesse a ver com tabus. Na minha opinião, não é por ser proibido que o sexo com crianças atrai tanto as pessoas (afinal,não são só os homens). Os homens sempre gostaram de se gabar por suas conquistas, e sempre se valorizou as conquistas mais jovens. Cansei de ouvir alguém dizer " me dei bem, peguei uma menina que não tem nem 16 anos". Nos prostíbulos, são as mais novas as mais valorizadas. Não acho que o abuso acontece por ser proibido. Diria que o abuso acontece apesar de ser proibido, mas acho que o que se busca é outra coisa pior.
    Acho que o abuso sexual às crianças é fruto de uma influência espiritual maléfica que busca a destruição da inocência. Não sei porque, mas toda vez que fico sabendo de um abuso ssexual à crianças me lembro que "das tais é o reino dos céus". Não sei se falo besteira, mas é assim que vejo a coisa. Aliás esta destruição da inocência das crianças é um processo que acontece também dentro da família. Hoje as minhas netas dançam e se vestem da mesma forma que as prostitutas que eu encontrava a 40 anos atrás nas casas noturnas. (nesta altura está dando a impressão de que eu não saia destes ambientes!)
    Hoje, o que seria este tipo abuso sexual para uma menina de 13 anos talvez não seja mais pois uma menina de 13 anos em muitos casos já é até mãe!

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